Novo governo brasileiro não demonstra interesse por energia solar

O Brasil acaba de passar por um processo eleitoral conturbado: o novo governo está, rapidamente, alterando seu foco, abandonando quase 16 anos de políticas sociais em favor do desenvolvimento econômico. Agora, o principal objetivo é reorganizar a economia, que passa por uma crise desde as eleições de 2014. Consequentemente, medidas de caráter ambiental não estão no topo da lista de prioridades atuais, e a Associação Brasileira de Aquecimento Solar (ABRASOL) espera uma piora de cenário para o ano de 2019.

Luiz Antônio Pinto, diretor da fabricante de aquecedores solares Solis e presidente da ABRASOL, afirma que, entre 2009 e 2014, a principal causa para o crescimento do mercado de aquecimento solar foi o programa de habitação social Minha Casa Minha Vida. Lançado em março de 2009, seu objetivo era construir milhões de novas residências destinadas ao público de baixa renda. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, os aquecedores solares são obrigatórios em casas cujos moradores possuam renda igual ou menor a três salários mínimos. Antes da posse do novo governo, a implementação de novas casas foi reduzida devido a falta de recursos públicos, mas deve ser restaurada em 2019.

Alguns governos estaduais cogitam, ainda, instalar geradores fotovoltaicos em vez de aquecedores solares nas habitações de interesse social. Na visão de Luiz Antônio, essa decisão cria alguns problemas: “O solar térmico é a maneira mais eficiente de se aquecer água. O uso de energia fotovoltaica é bom, mas não significa que devamos deixar o solar térmico de lado. E, se tivermos que escolher entre um dos dois, deve ser o térmico, que é uma tecnologia já consolidada no país.” Portanto, um dos objetivos da ABRASOL é estabelecer um relacionamento com os novos ministérios para promover maior conhecimento a respeito do solar térmico.

Aproximadamente 700 aquecedores solares foram instalados como parte de um projeto de habitação social implementado em 2012. (Foto: Tuma)

Pinto ainda aponta que toda a indústria de aquecimento solar do Brasil ocorre no próprio país, o que garante empregos locais: “A indústria já gerou milhares de empregos aqui que queremos manter, e queremos gerar cada vez mais.” Em contraste a essa situação, grande parte dos negócios relacionados a energia fotovoltaica que operam no Brasil possuem base na China. Pinto acredita que serão necessários incentivos do governo para que surjam mais fornecedores de equipamentos fotovoltaicos nacionais.

Ainda assim, as expectativas sobre o mercado de energia solar, seja térmica ou fotovoltaica, são boas. Amaurício Gomes Lúcio, diretor da fabricante Tuma, aponta que a economia do país está crescendo, o que é positivo para o mercado de aquecimento solar. Entretanto, “o governo ainda precisa encorajar o uso de tecnologias solares”, ele diz.

Uma pesquisa feita pela ABRASOL entre empresários do setor de solar térmico indica que, em 2018, o mercado teve desempenho negativo em relação a 2017. Além disso, a maior parte dos entrevistados espera pouca ou nenhuma melhora para o ano de 2019. Carlos Artur Alencar, diretor da fabricante Enalter, acredita que ainda é cedo para prever o desempenho do mercado em um futuro próximo. “É necessário que as ações dos ministérios sejam melhor definidas para traçar um panorama mais claro”, ele diz.

Organizações mencionadas no artigo:
https://www.abrasol.org.br/
https://www.tuma.ind.br/
http://www.enalter.com.br/

Close