“Precisamos incorporar o aquecimento solar na formação do arquiteto”

O Brasil ocupa a quarta posição na lista dos maiores mercados de aquecimento solar do mundo, mas são poucos os casos de integração entre as instalações e fachadas ou telhados de edifícios. O arquiteto Sylvio de Podestá está por trás de uma das construções que possuem integração entre os equipamentos e a cobertura, um hotel na cidade de Belo Horizonte, também conhecida como a capital do solar no Brasil. Nessa edificação, os coletores estão inclinados de modo a garantir máxima eficiência do sistema (ver imagem). Normalmente, os equipamentos de aquecimento solar são adicionados durante a construção, muito tempo depois da elaboração do projeto arquitetônico.

Uma das razões para essa adição tardia é a falta de políticas públicas que encorajem um uso mais eficiente do equipamento, de acordo com a professora Rejane Loura, que leciona na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Além disso, segundo a professora, as legislações municipais usuais de registro de construções conduzem a um processo fragmentado da realização dos empreendimentos, em que profissionais não interagem, comprometendo a unidade conceitual dos edifícios. No Brasil, de um modo geral, e com destaque para Belo Horizonte, o processo de aprovação dos projetos nas prefeituras é longo, burocrático e ocorre de modo já consolidado no início do processo. Dessa forma, eventuais alterações no andamento da obra irão provocar custos e atrasos adicionais.

Belo Horizonte possui apenas alguns poucos edifícios que de alguma forma integram o sistema de aquecimento ao projeto. Ainda assim, não existe integração em fachadas. Para Podestá, uma das maiores dificuldades para alcançar essa integração é o peso dos coletores solares: “Pra um dia serem devidamente incorporados na arquitetura, eles terão que ser re-dimensionados”, diz.

A maioria dos edifícios de classe alta em Belo Horizonte contam com aquecimento solar e, para instalação do sistema, são utilizados espaços residuais da construção. Mesmo sem um bom planejamento prévio, alguns desses edifícios aquecem até 70% da água quente com energia solar. Para a Professora Loura, isto é mais um fator que influencia na falta de integração entre sistema e construção. “Belo Horizonte recebe muita luz solar. Independentemente da maneira que o sistema é instalado, ele é eficiente, alcança a quantidade de água quente necessária. Portanto, não é feito um grande esforço.”

Em cidades ensolaradas como Belo Horizonte não é necessário um bom planejamento para garantir a eficiência dos sistemas. Já em algumas cidades do sul do país, como Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis, onde freqüentemente predomina o céu nublado, o processo de integração dos equipamentos ao edifício tem muito a melhorar.

Algumas cidades do estado de São Paulo obrigam, por lei, o uso de aquecimento solar em edifícios residenciais. Entretanto, de acordo com Loura, esse tipo de lei acaba por comprometer a imagem da tecnologia, já que nem sempre as condições do edifício permitem soluções funcionais.

A Professora Loura aponta, ainda, a necessidade de incorporação da tecnologia na formação do arquiteto. A falta de conhecimento do profissional, aliado a um processo construtivo fragmentado, dificulta ainda mais uma possível integração entre o sistema e o projeto do edifício.

Ainda que o contexto não esteja favorável para o desenvolvimento dessa integração, a Prof. Loura demonstra uma visão otimista do ponto de vista do mercado. Com a estagnação da geração hidrelétrica no país, todas as fontes renováveis de energia estarão a cada dia mais valorizadas.

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